terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O fogo levou tudo o que quis...




  Passaram quase 2 meses... Sinto que já passaram muitos mais... anos até. Aquela noite trouxe um capítulo completamente diferente às nossas vidas. Vai tornar-se, pelos piores motivos, um marco na nossa história. Começou a existir um "antes" e um "depois" do incêndio.
  Não houve nada a fazer. Num ápice, o fogo galgou as fronteiras da aldeia e espalhou-se por todo o lado. A velocidade e a violência com que as chamas atingiam tudo era impressionante. Sem luz e sem água, pouco houve a fazer. O fogo levou aquilo que quis...
   De um momento para o outro, ficamos rodeado de chamas. Não havia saída. Estávamos entregues a nós próprios, como se o mundo nos tivesse despejado no inferno. Restava-nos não baixar os braços, e mesmo sem meios, salvar aquilo que pudéssemos. Assim fizemos. Toda a noite combatemos o fogo, a exaustão e a tristeza... até não haver mais nada para arder.
   Entre fumo e o silêncio absolutamente sepulcral que me ecoava na mente, aquela madrugada sufocante e interminável, fazia antever uma manhã terrível. E assim foi. O sol nasceu, mas estava esmagado pela gigante nuvem de fumo. Quando os primeiros raios conseguiram despoletar , a exaustão deu-nos um pouco de tréguas. Os sentimentos confundiam-se e, em turbilhão, davam-nos alguma força anímica, mas as poucas notícias que durante a noite ainda chegaram, faziam temer o pior. Só sabíamos de nós e como estavam as coisas que conseguíamos enxergar. O resto era uma incógnita. Sabíamos que o cenário que iríamos encontrar não era animador. Mas fomos...
   Àquela hora a aldeia parecia vazia. Uns ainda não tinham regressado, outros aproveitariam a manhã para descansar do pesadelo que a noite trouxera.
   Aquilo que encontrámos é indescritível... Era um cenário de guerra. Tudo se tornou negro...






   Foi um choque enorme. Muitos eram os caminhos intransitáveis, com fios e postes destruídos no chão. Algumas árvores e ramos também sucumbiram àquela força da natureza. O verde da floresta simplesmente desapareceu...
    Chegámos aos pomares e os nossos receios confirmavam-se. O panorama era dantesco. Ainda assim, pequenos milagres aconteceram e salvaram-se algumas coisas. Milhares de árvores, sistema de rega e de contenção de solo não escaparam e foram reduzidos a pó...










     Os dias que se seguiram não foram melhores. Passado o choque maior, surgem as dúvidas. A confusão e a incerteza estava instalada.
      Estão as árvores efetivamente queimadas? Mortas? Será possível recuperar? O que se pode fazer para minimizar os danos? Devemos regar/adubar/podar? Imediatamente ou só depois?
     Ficámos sem norte... e isolados do Mundo... Ficámos também sem comunicações, o que em nada facilitou o processo. As orientações que chegavam eram escassas,confusas e contraditórias...  Sentimo-nos esquecidos.
     Vimos pessoas a aproveitarem-se desta catástrofe e da boa vontade dos outros. É nestas alturas que conseguimos destrinçar verdadeiramente as pessoas. Aquelas que ainda nos conseguiam ludibriar no quotidiano com sorrisos e atitudes hipócritas, perante estas situações deixam vir à tona o seu mais íntimo ser, demonstrando o que realmente são. Andam aqui enganados... mas a vida encarregar-se-à de lhes mostrar. Pelo menos assim espero...
      Perante tudo isto, e entre a força da natureza e a maldade humana, percebemos que estávamos por nossa conta... Todo o trabalho, esforço e investimento de anos desapareceu, num abrir e fechar de olhos. Desapareceu agora e desapareceu para os próximos anos... O futuro é tão negro, quanto a terra queimada, mas tivemos que arranjar forças algures dentro de nós, erguer a cabeça e arregaçar as mangas...


(Continua...)



        

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