quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Depois do negro, que venha o verde...

(Continuação...)

O tempo vai passando, vai trazendo o distanciamento necessário para apaziguar as feridas da alma...e da Natureza. Já não é tudo tão negro. Já conseguimos ver o "copo meio cheio" por baixo da metade vazia. Não foi fácil, mas a vida é mesmo assim, e saber ver para além do lado negro é o grande desafio que nos é imposto.
Durante muito tempo, sempre que olhava em redor, nada mais via que o negro: o negro da terra, o negro das árvores, o negro da vida... Nada havia para além do preto. Foi preciso muitos dias volvidos para ver o verde, para perceber que ainda havia esperança.
Naquele dia cumpria mais uma vez a minha rotina. Saía de casa tentando ignorar a paisagem triste que se instalou na noite fatídica e, tentando conter as emoções que aquele cenário me despertava, quando algo me chamou a atenção. Ela estava ali. Desde sempre. Mesmo à minha frente. Mas nunca antes tinha reparado nela. Também ela não escapou, mas não foi totalmente atingida. Ainda exibe algum do seu verde, como que a mostrar-nos que nem tudo está perdido. Não passa de uma árvore, mas foi o suficiente para dar aquele "click" que faltava.



... A vida continuou. E havia tanto para fazer! O problema era saber por onde começar.
Finalmente chegava alguma resposta.  Vieram os técnicos, também sem saber ao que vinham e o que iam encontrar, mas ainda assim, não deixaram de vir mediante nosso pedido.
    Infelizmente não havia respostas. Um cenário como o que encontraram não se prevê, não se aprende a resolver nos bancos da universidade. Recolheram amostras, fotografaram e demonstraram a sua solidariedade. Encorajaram a não desistir, mas não havia nada a fazer. Só a primavera trará as respostas.
     Não nos acrescentaram nada, mas aumentaram-nos a força. Reconheceram o (bom) trabalho de anos que ali fora perdido. Estávamos em novembro... a primavera ainda vinha longe! Não podíamos simplesmente cruzar os braços e esperar. Fizemos contactos, partilhamos/ouvimos experiências idênticas e pusemos "mãos à obra".
     Retiramos as contenções do solo e os sistemas de rega e limpamos as propriedades. Às macieiras e às pereiras, pouco mais havia a fazer. Mas aos mirtilos não esperamos. Todos os afetados foram podados, ou melhor cortados, ficando apenas com o pé com uma altura aproximada de 10 cm.
É um forçar a planta a retroceder 4/5 anos e esperar que vingue, que cresça com força e mantenha a qualidade que até então tinha.
     Foram trabalhos muito complicados, mas concretizaram-se.






Ver tudo limpo, tudo despido...fez tremer o coração... Parecia um autêntico cemitério.




A partir daqui é uma luta diária. Repor aquilo que se perdeu e tratar daquilo que restou.
A primavera aproxima-se... e aguardamos impacientemente. Vai pôr a nu tudo aquilo que o negro encobre. Que traga o verde e que nos acimente a esperança...